Uma palavra sobre o BBB

Não gosto nem um pouco do BBB, mas não é disso que vou tratar aqui. Muitos alegam que o programa é bom porque é real. Acho que na hora que uma pessoa sabe que está sendo filmado, deixa de ser real e isso vale para qualquer reality show. Duas coisas se juntam em um programa desses que acabam com essa pretensão de realidade: os interesses dos participantes e a edição das imagens. Monta-se o papel que quiser dessa forma. Qualquer novela de tv é mais real do que um programa desses. Pronto. Falei mais do que queria sobre o programa em si.

O que mais me interessa no BBB é o efeito nas pessoas que tratam do programa. Isso sim é realidade, é comportamento humano genuíno. O verdadeiro reality show está do lado de fora da televisão.

Uma das coisas que me fascinam são os julgamentos morais de si mesmos ao se referir ao programa. Isso não é próprio do BBB, se revela em outras áreas também como nas opiniões políticas, religião, filosofia. Na verdade, trata-se de um dos grandes males humanos, acreditar que sua opinião te coloca em um patamar superior de moral.

Muitos críticos do programa realmente consideram que são pessoas melhores porque não assistem o programa, revelando um certo desprezo pelos outros. Acho isso muito curioso. Eu não gosto do BBB, e não gosto com força, como diz um amigo, mas jamais me senti melhor do que meu vizinho por ele gostar de assistir. A questão é eminentemente pessoal. Não gosto e pronto.

Isso é mais comum do que se pensa. Quantos fãs de jazz ou de rock progressivo, por exemplo, andam com o nariz empinado como se o resto da humanidade fosse um bando de troglodita? Quantas pessoas não se consideram moralmente superiores por acreditarem nas promessas de Marx? Quantos religiosos não se consideram superiores por acreditar em determinada religião, mesmo que a pratiquem muito porcamente? É um fenômeno social interessante e que pode dar origem a muita coisa ruim.

Engraçado que a mesma pessoa que despreza o BBB por se achar superior “a essa coisa aí”, por vezes tem outros go

stos que é motivo de soberba por outro tipo de gente. Por exemplo, desprezo o BBB mas gosto de funk, para horror do fã de jazz e assim por diante. Ninguém tem telhado de vidro!

Por isso afastem de mim essas listas de assinaturas para tirar o BBB da TV ou coisas do gênero. O dia em que a audiê

ncia despencar, o programa sai do ar. Acontece isso todos os dias. Se dá audiência, tenho mais é que respeitar o direito de quem quer assistir, por mais que considere tudo aquilo uma porcaria sem tamanho.

Liberdade para mim tem muito de respeitar o direito das pessoas fazerem coisas que eu não gosto. Respeitar a

penas o que você concorda é fácil, o duro é aceitar opiniões e decisões que consideramos absurdas, mas esta é a essência de uma vida realmente tolerante e de uma sociedade mais harmônica.