It Happened One Night (1934)

Carona?
Carona?

Sabem aquele estilo de filme que um rapaz e uma garota se encontram por acaso, não vão com a cara um do outro, são de mundos completamente diferentes, e terminam se apaixonando? O estilo que ficou conhecido como comédia romântica? Pois é, It Happened One Night foi um dos filmes que definiram este filão e talvez nenhum outro tenha sido tão copiado e parodiado como este.

A idéia não era nova, já existia Much Ado About Nothing, do bardo, e Orgulho e Preconceito, da virgem. Mas talvez tenha sido Capra quem primeiro deu seu desenho para a tela grande. E com absoluto sucesso! Clark Gable e Claudete Colbert dão um show como o repórter Peter e a patricinha, sim já existia!, Elie, que se encontram por acaso em um ônibus. Ela está fugindo do pai e se dirige a Nova Iorque, onde se encontra o aviador playboy com que ela se casou em um rompante. O pai quer a anulação do casamento.

O filme se transforma em um delicioso road movie em que Peter e Elie vão passando por diversos obstáculos e tendo a oportunidade de viver uma aventura juntos. Capra é o cineasta chestertoniano por natureza e sabia muito bem que o verdadeiro romance estão nas estórias de aventura e não dos melodramas chamados românticos. A aventura é o símbolo maior do casamento.

O filme tem cenas memoráveis como a mil vezes repetida em que Colbert mostra a pena para conseguir uma carona, o muro de jericó (tem que ver para entender!), o diálogo impagável em que o pai de Elie tenta arrancar de Peter se ele ama a filha ou não (qualquer semelhança entre o confronto “do you want the truth” entre Nicholson e Cruise não é mera coindicência). O filme já foi tão parodiado e copiado que fica a impressão de que já vimos tudo aquilo antes. E vimos! Só que este é a origem de tudo!

E interessante também como Peter vai perdendo o tom superior e se tornando mal humorado à medida que vai se apaixonando. Exatamente o contrário de Elie, que vai perdendo a agressividade e suavizando. Boys and girls!

Este filme foi a virada para Frank Capra. Seu sucesso foi estrondoso, o maior da Columbia. Foi vendo a reação do público que o cineasta entendeu o sentido de sua vida e iniciou um conjunto de filmes maravilhosos que mostrava o entendimento dos ideais americanos dentro de uma tradição ocidental cristã. Mas isso fica para outro post.

It happened One Night é diversão pura, a comédia romântica por excelência.

 

Vai uma cenoura?
Vai uma cenoura?

Curiosidades

  • O filme foi o primeiro a ganhar o grand slam do Oscar (vencer as 5 categorias principais). Apenas outros dois conseguiram a façanha, Um Estranho no Ninho e O Silêncio dos Inocentes.
  • O filme inspirou o Perna Longa, especialmente pelo personagem Shapeley (que não para de falar um instante) e a forma como Peter come cenouras enquanto fala. Inspirou também o gambá Pepe com o playboy com que Elie se casa.
  • Colbert odiou o filme. Teve que correr as preças para o teatro quando soube que ganhou o prêmio de melhor atriz.

Quotes

Alexander Andrews: Oh, er, do you mind if I ask you a question, frankly? Do you love my daughter?
Peter Warne: Any guy that’d fall in love with your daughter ought to have his head examined.
Alexander Andrews: Now that’s an evasion!
Peter Warne: She picked herself a perfect running mate – King Westley – the pill of the century! What she needs is a guy that’d take a sock at her once a day, whether it’s coming to her or not. If you had half the brains you’re supposed to have, you’d done it yourself, long ago.
Alexander Andrews: Do you love her?
Peter Warne: A normal human being couldn’t live under the same roof with her without going nutty! She’s my idea of nothing!
Alexander Andrews: I asked you a simple question! Do you love her?
Peter Warne: YES! But don’t hold that against me, I’m a little screwy myself!

 

 

Notícias na terra do tio SAM

Sabatina de Chuck Hagel

O ex-senador Chuck Hagel vai hoje para a sabatina no Senado sob fogo cerrado dos republicanos. Hegel tem um passado marcadamente anti-israel e a favor dos muçulmanos. Foi um dos dois únicos senadores a não assinar um aumento das sansações contra o Irã em 2001 e um dos quatro que não assinaram um carta de apoio a Israel em 2010. Detalhe: Hegel era um senador pelo… partido Republicano! Nos últimos dias mudou o discurso e tem defendido ações mais fortes para resolver o problema do Oriente Médio. Pelo menos por aqui as sabatinas costuma ser de verdade e não aquele circo que vemos no Brasil.

Egito em colapso

Cada vez fica mais claro que o Egito está a beira do colapso e a tal primavera árabe foi um engodo. Para piorar, começam a aparecer informações que a Líbia se tornou um centro de abastecimento de armas para os países vizinhos, notadamente Nigéria e Mali. Já se fala em intervenção americana no centro da África pois estão se configurando novos celeiros de terrorismo, como foi o Afeganistão antes do 11 de setembro. Mais dor de cabeça para o orelhudo.

Retração da economia

Um balde de água fria. O anúncio esta semana da retração econômica do último trimestre do ano passado arranhou o discurso de recuperação de Obama, que prontamente colocou a culpa nos deputados republicanos. Sobrou até para o furacão Sandy, aquele que teve jornalista agradecendo por garantir o segundo mandato do ídolo. O fato é que a economia americana não decolou mesmo depois de 4 anos de “estímulo” dos democratas.

Como identificar um gênio

Uma das minhas regras para identificar um gênio é:

1) Escolha três obras aleatórias (ou nem tão aleatórias assim);

2) Se as três forem excepcionais, temos um gênio.

Claro que a classificação pode ser reavaliada com o tempo e alguns não precisam de um teste destes. Um exemplo é Cervantes. Até porque Dom Quixote é na verdade um conjunto de livros, todos excepcionais.

Usei estas regras, por exemplo, com Charles Dickens. Li o Conto de Natal, Grandes Esperanças e Um Conto de Duas Cidades. Sem palavras. Três livros sensacionais. Gênio. Depois ainda li Oliver Twist, que apenas confirmou o diagnóstico inicial.

Está em processo de classificação: Frank Capra, de quem assisti It’s a Wonderful World e Mr Deeds Goes to Town. Falta a terceira pois estas duas são excepcionais. E estava Ingmar Bergman, de quem tinha assistido O Sétimo Selo e Noites de Circo.

Estava, pois com Gritos e Sussurros ele entrou no panteão: Gênio!

Ingmar Bergman: gênio!
Ingmar Bergman: gênio!

Em tempo:

Outros exemplos de gênio seguindo a regra dos 3:

1) Akira Kurosawa: Os Sete Samurais, A Fortaleza Escondida e Rashomon

2) Sergio Leone: A trilogia dos dólares

Nos States…

Nova seção do blog para dizer o que anda em notícia aqui nos States, já que a imprensa brasileira só sabe filtrar do NYT as notícias que lhe interessam!

Aprovação do aumento do teto da dívida

Mais uma vez deputados e senadores aprovaram o aumento do teto da dívida, o que dá alguma fôlego por uns meses. O governo não dá o menor sinal de querer diminuir o gasto público e sempre ameaça cortar dos programas sociais e colocar a culpa nos republicanos, como se este fosse o único possível corte do orçamento. Hoje ameaçaram cortar das vítimas do furacão Sandy, só para não perder a forma. Os republicanos acabam cedendo para não ficar abraçado a imagem que foram responsáveis por cortes nos programas sociais. O fato é que a questão vai sendo empurrada pela barriga, como sempre.

Nova lei de imigração

O governo está finalizando uma proposta de lei para a imigração. Há 11 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos, a grande maioria mexicanos e latinos. É outra questão delicada para republicanos que se endurecerem demais acabam engordando os votos democratas junto aos imigrantes que vão se legalizando. A maioria dos americanos querem uma legislação que crie um caminho para a legalização dos imigrantes que já estão por aqui, mas com verificação de antecedentes e que eles aprendam inglês, mais ou menos o que sempre defendeu o Senador republicano John McCain.

Endurecimento na compra de armas

Um dos itens da agenda de Obama, que ganhou força depois do último massacre. Pelo que ouvi as medidas serão mais midiáticas do que práticas, já que grande parte dos americanos já possuem armas e há uma grande discussão sobre o que configuraria uma arma automática. Tomar decisões e fazer leis movidos pela emoção de uma tragédia pode ser algo perigoso.

Gays nos escoteiros

Pois é, também está no noticiário que o movimento dos escoteiros americanos está discutindo a possibilidade de aceitar gays em seus corpos. Outra pegadinha linguística. Sempre houveram gays entre os escoteiros, o que se discutem agora é se pode ser escoteiro e afirmar a condição de gay. É a tal da identidade gay, seja lá o que for isso. Os escoteiros adotavam o lema das forças armadas do “don’t ask, don’t tell”. Parece que não é suficiente.

 

Cries and Whispers (1972)

Uma reflexão sobre a morte

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Esperando o inevitável

A morte é sempre um acontecimento marcante em nossas vidas, basta ver como uma morte distante é capaz de causar comoção em pessoas que não possuem a menor relação com aquela que está partindo. Quando ocorre na família, esta se transforma, nunca mais é a mesma. Ainda mais quando esta morte é consequência de uma longa doença, como o câncer.

Agnes está morrendo. Suas irmãs Karin e Maria, e a criada Anna, se revezam para cuidar dela em uma antiga mansão da família, no início do século XX. As imagens que Ingmar Bergman produz são intensas. Com pouquíssimos diálogos, pelo menos na primeira metade do filme, vamos conhecendo os personagens por suas expressões e atos. Aos poucos, por flashbacks, vamos conhecendo alguns segredos da família, que começam a surgir diante do inevitável.

Sim, a morte tem este poder. Trazer à tona segredos e principalmente ressentimentos que há muito estão escondidos. À medida que ela se aproxima, os sentimentos ficam mais intensos, prontos para explodir. Amores, traição, inveja, erotismo, loucura, tudo pronto para transbordar. Segredos que machucam, que não podem ficar retidos por muito tempo. E culpa. Muita culpa.

Bergman nos apresenta um espetáculo que parece ter sido tirado das páginas de Tcheckov. A morte é nossa única certeza e mesmo assim é capaz de causar tamanho impacto nas pessoas, particularmente nas mais próximas. Karin, Maria e Anna são testemunhas do sofrimento de Agnes, e convivem silenciosamente, entre sussurros, com os gritos de dor de quem está próximo de partir.

Um filme intenso e inquietante, com momentos perturbadores, que nos convida a refletir sobre como aproveitamos a dádiva da vida, pois ela pode nos ser tirada a qualquer momento. De forma rápida ou como Agnes, em lenta agonia. Um belo filme, sob todos os aspectos.

 

Quote:

Karin: [to Maria] You look so disconcerted. You thought our talk would be different, didn’t you? Do you realize I hate you and how foolish I find your insipid smile and your idiotic flirtatiousness?
[exhales]
Karin: How have I managed to tolerate you so long and not say anything? I know of what you’re made – with your empty caresses and your false laughter. Can you conceive how anyone can live with so much hate as has been my burden? There’s no relief, no charity, no help! There is nothing. Do you understand? Nothing can escape me for I see all!

Campeonato Carioca? Fala sério!

A mídia tenta tirar leite de pedra quando trata o Campeonato Carioca como uma competição. Análises sobre o tropeço do Flamengo, as declarações de Dorival Jr, o tropeço do Botafogo, a média baixa de público. Tudo balela.

O Campeonato Carioca não existe mais! O que existe na prática é um conjunto de jogos que atrapalha a pré-temporada dos times, que se pudessem começariam jogando com reservas e só colocariam os titulares no final da competição, só para preparar para o que importa. 

Mas não podem. Infelizmente técnicos perdem emprego por mal desempenho no estadual, o que é um absurdo! Estão começando a montar um time, deveriam ter espaço para experimentação e aquisição de ritmo.

Sim, o Flamengo empatou com o Madureira no meio de semana. O que significa isso? Rigorosamente nada! Assim como qualquer outro grande que perca pontos para os pequenos, que estão treinando desde o ano passado para a competição.

Quem viu o que era o campeonato carioca, nos tempos que ainda tínhamos Bangu e América brigando pelo título, sabe a porcaria que está vendo. Em uma profissionalização do futebol não tem sentido nenhum os grandes disputarem uma competição nestas condições.

Não é que o carioca tenha que acabar, ele já acabou! Os times estão apenas jogando os destroços.

Sobre a Kiss

Para variar, Reinaldo Azevedo tocou no ponto certo.

Sim, o alvará dos bombeiros estava vencido desde outubro do ano passado. Só que nada mudou na boate de outubro para cá não é mesmo? Em outras palavras, até outubro o poder público não via nada de errado em uma boate que abriga 2000 pessoas com uma única saída de mergência. Coloco novamente a pergunta que fiz para alguns amigos: a Kiss é uma exceção no Brasil ou a regra?

Não estou aqui querendo livrar a cara dos donos da boate e da IMBECILIDADE da banda que resolver usar artefatos pirotécnicos em um ambiente fechado. Todos devem ser responsabilizados nos TERMOS DA LEI.

Mas o poder público será responsabilizado? Ou a licença vencida o exime completamente? Lembro que o tal do reverso livrou toda a diretoria IRRESPONSÁVEL da ANAC, e seus padrinhos políticos (né Dirceu?) da responsabilidade pelas mortos no acidente da TAM.

Já vejo um movimento para responsabilizar a boate como única protagonista deste acidente terrível. O negócio é jogar os holofotes para os donos e a banda que tudo fica bem. Logo a populança esquece e tudo segue normal; até o próximo acidente.

Volto à pergunta: a Kiss é uma exceção no Brasil? Já rodei algumas boates pelo país à fora e pelo que vi, não. É bom os frequentadores de boate prestarem bem atenção no que aconteceu e começarem a reparar nas condições de segurança das casas que frequentam. É segura? Tem boas saídas de emergência? Não? É bom fazer sua parte e começar a exigir segurança a começar por deixar de frequentar a casa, explicando bem o motivo. Em mesmo nunca prestei muita atenção nestas coisas, mas agora ficou bem evidente o que pode acontecer, não é? É bom pensar bem antes de se colocar em uma situação de risco. Também temos nossas responsabilidades individuais.

Infelizmente vejo pouca chance do acidente servir como ponto partida para uma reestruturação de como tratamos as questões de segurança no Brasil, em todos os seus aspectos. Vai acabar com alguma responsabilização individual, pelo menos enquanto der mídia, e tudo seguirá como antes.