Um pouco mais sobre os Jogos de Londres. Antes uma pequena digressão.
Para mim nosso desempenho nos jogos sempre foi de altos e baixos. Aprendi isso à base de muita frustração e surpresas. A primeira Olimpíada que acompanhei foi a de Los Angeles, onde chegamos perto de ganhar uma série de medalhas de outro, um tanto beneficiado pelo boicote do leste europeu. E nem foram tantas medalhas assim, foram 8. Mas ver o Joaquim Cruz vencer o Sebastian Coe foi inesquecível, assim como a frustração com o prata de Ricardo Prado, então recordista mundial do 400 metros medley.
Seul já foi meio frustrante, especialmente pelo basquete masculino, que vinha da mítica vitória sobre os Estados Unidos no Pan, e pelo prata de Joaquim Cruz, nossa maios esperança e pela seleção de futebol que foi crescendo na competição e tinha tudo para ganhar o outro.
Barcelona foi uma verdadeira ducha de água fria, apenas 3 medalhas. Valeu pelo outro no volei, superando nosso complexo no esporte de ser sempre uma segunda força.
Foi em Atlanta que nos sentimos realmente bem pela primeira vez. Era praticamente uma medalha por dia. Claro que teve a entrada do volei de praia, mas mesmo assim um salto de 3 para 15 medalhas não pode ser colocado apenas na conta do novo esporte. Passamos a ganhar medalhas na natação, no hipismo, quase conseguimos no tennis. Parecia que enfim alcançaríamos novo patamar.
Aqui começa o problema das expectativas. Se ganhamos 15 em Atlanta, para Sydney passamos a exigir 20. Tínhamos bons motivos para isso, como nossos campeões mundiais Roberto Scheidt e Rodrigo Pessoa. Guga jogando o fino, o volei de praia, a seleção feminina de volei jogando de igual para igual com Cuba e Russia. A imagem da Olimpíada infelizmente foi a do cavalo do Rodrigo Pessoa refugando o obstáculo no caminho para levar o ouro.
De qualquer forma, o patamar de dois dígitos de medalhas se confirmou, embora proporcionalmente nosso número de ouros não seja bom. Parece que falta alguma coisinha para subir no degrau mais alto do pódio.
Então porque a choradeira generalizada sobre nossas campanhas olímpicas? O problema é que políticos, burocratas do esporte e mídia colocam nossas atletas acima de suas reais possibilidades. Somos convencidos a cada ciclo olímpico que temos mais chances do que realmente temos, o que sempre gera uma enorme frustração. A afirmação do COB de que a meta eram de 15 medalhas passou quase despercebida, rodapé de jornal.
O PAN ainda piora ainda mais a situação e o grande exemplo é Tiago Pereira. Suas 20 medalhas no torneio continental se transformaram em uma única olímpica. Para mim, o PAN só serve para mostrar que realmente nossos atletas de alto nível evoluíram uma barbaridade em 20 anos; o problema é que não temos atletas de alto nível em número suficiente.
O modelo de investir no atleta de alto rendimento, coisa que não existia até o final da década de 90 chegou no seu limite. Não adianta enfiar mais dinheiro que não vai sair mais resultado do que isso que temos. O que precisamos é ter mais atletas de alto nível e isso só se faz pela massificação do esporte no país.
Como fazer isso? A primeira resposta é sempre a mesma, dinheiro. Pois eu acho que pode colocar o dinheiro que for no Ministério dos Esportes, não vai dar em nada. Não é verdade que o brasileiro só pensa em futebol, uma grande parte não dá a mínima para nosso esporte mais praticada, só que não dá a mínima para nenhum outro esporte. Nosso problema é cultural.
É fácil falar que o brasileiro só liga para os outros esportes em época de Olimpíadas, mas a pergunta deve ser invertida, por que o brasileiro só se liga em esportes em época de Olimpíadas? O que tem de diferente?
Pensem nisso. Continuo minhas reflexões em outro post.