Os escolásticos acreditavam que o conhecimento divida-se de 4 grandes fases:
– Experiência ou história (o fato)
– ciência (a lei)
– filosofia (princípios)
– teologia (visão da verdade absoluta, unidade da perfeita verdade).
A ciência estaria portanto no segundo nível de conhecimento, ocupando-se de descobrir as leis que regem os fenômenos. Quando Galileu expressou a lei da gravidade estava justamente fazendo ciência, mostrando qual era a lei que regia um determinado fenômeno. A ciência trata de responder a pergunta “como?”.
A filosofia procura os primeiros princípios, as causas mais remotas dos fenômenos. Muitas vezes a ciência consegue chegar nas causas imediatas, usando as relações de causa e efeito, que são uma construção da filosofia. Muito antes dos cientistas modernos, os filósofos já afirmavam que todo efeito tem uma causa. Inclusive São Tomás de Aquino usou essa idéia para provar a existência de Deus; no século XIII! Essas causas remotas só são alcançadas pelo uso da razão.
Por fim temos a teologia, que trata das questões que estão acima das possibilidades da razão humana, por isso reveladas pela fé. Mas isso é outra estória.
São Tomás de Aquino afirmava que a pedra caía na terra quando solta porque ela tinha um desejo natural de se unir à terra. Quando Galileu provou a lei da gravidade, as idéias de Aquino, derivadas de Aristóteles, foram tomadas como ridículas, emboras estivesse tão certo quanto Galileu. O que pouca gente percebeu foi que São Tomás estava no círculo da filosofia enquanto que Galileu estava na ciência. Se pesquisassem um pouco sobre o significado de desejo natural para estes pensadores, saberiam do que estava falando.
Falando em Aristóteles, ele dizia que existem 4 tipos de causas para as coisas serem como são. Podemos usar como exemplo é uma estátua de Napoleão.
a) causa eficiente: a causa que gerou a estátua. No caso o artista e os instrumentos que utilizou.
b) causa material: a matéria usada para produzir a coisa. No caso, o mármore ou o gesso.
c) causa formal: a essência da coisa, o que a faz ser reconhecida como tal. Não confundir com forma geométrica. A alma, por exemplo, faz parte da forma de um corpo, assim como o uso da razão. No caso da estátua, seria tudo que nos faz reconhecê-la como uma estátua de Napoleão. Inclusive sua imagem.
d) causa final: por que a coisa foi feita. No caso, poderia ser para homenajear os antigos heróis franceses.
Não parece que a divisão dos escolásticos não corresponderia às 4 causas do ser? Causa Eficiente (história), causa material (ciência), causa formal (filosofia) e causa final (teologia).
Finalmente, quando se trata de fenômenos, vale aquelas regrinhas do jornalismo. No mínimo temos que saber O que (história), como (ciência), por que (filosofia) e para que (teologia). Para Aristóteles estas coisas andavam juntas e por isso não existia a divisão que temos hoje. Pelo termo filósofo entendia-se cientista, historiador e teólogo.
E depois se dividiu mais ainda, com a especialização da ciência. O que gera um grande problema do conhecimento da unidade do ser. Se cada ciência é específica e busca a verdade a partir de determinado recorte, abstraindo uma série de coisas, como teremos a visão integral da verdade?