Reflexões eleitorais

Definitivamente eleições presidenciais não são para mim; estou invariavelmente no lado perdedor. Nem quando estive do lado errado com Kerry em 2004 consegui vencer. Naquele ano ainda estava contaminado pelo anti-americanismo latino-americano, li até Michael Moore!, e estava bem próximo de ser um alienado político. Felizmente eu perdi e Bush foi reeleito. Em 2002, no Brasil, era tão alienado que fui indiferente à disputa entre Lula e Serra e cheguei a ver com simpatia o início do governo petista. É o que dá acompanhar o mundo pelo Jornal Nacional e pela mídia brasileira.

Cabe aqui uma primeira reflexão: esses dois exemplos me mostraram que pela mídia jamais compreenderia que Lula e Kerry eram opostos a minhas inclinações pessoais, minhas crenças mais sinceras, até porque nem as percebia ainda. Eu não tinha chegado ao ponto do filósofo de saber que nada sabia. Ignorava minha própria ignorância.

Duas coisas acontecem aqui. Primeiro, o jornalismo está sempre nos escondendo a verdadeira natureza de determinados candidatos. Na verdade é um truque sujo. Eles sabem que se realmente soubéssemos o que Lula ou Dilma pensam, muitos eleitores fugiriam correndo. Na cabeça desse pessoal somos ignorantes preconceituosos que precisam ser tutelados e cabe aos jornalistas, estes seres iluminados pela razão, garantir que só saibamos o que interessa. Em muitos aspectos boa parte dos jornalistas protegem esses políticos de si mesmos pois sabem com mais propriedade o que seríamos capazes de aceitar.

Um segundo ponto diz respeito a nossas crenças pessoais. Sem a devida reflexão, e um mínimo de cultura político-filosófica, e de lógica, a maioria de nossas convicções mais profundas permancem escondidas nos rincões inacessíveis de nosso espírito. Sem começar a estudar e compreender o que está longe da camada superficial do jornalismo político e cultural, não conseguiria perceber minha crença inata em uma ordem moral permanente e transcendente, que independe de épocas e lugares, mas que está inscrita em nossas consciências. O homem não precisou dos dez mandamentos para entender que há algo errado no ato de matar ou de desejar a mulher do próximo; já sabia de todas essas coisas. Moisés apenas codificou algumas leis eternas, válidas para todas as civilizações, agora e sempre.

A partir do momento que comecei a me entender um pouco mais, percebi que existem sim diferenças entre petistas e tucanos, democratas e republicanos, Lula e Serra, Bush e Gore, Obama e Romney. A todo momento parte da mídia tenta nos convencer que são todos iguais, que apenas disputam cargos, embora invariavelmente nos convidem a votar nos chamados progressistas, os mais a esquerda. Se são tão iguais assim, por que votar em um e não no outro? Mas jornalistas são espertos e ao invés de expor claramente as visões políticas distintas de cada um deles procuram caracterizá-los de forma maniqueísta, separando-os em bons e maus. É como se dissessem que no fundo Romney e Obama pensam a mesma coisa, mas o segundo é um cara legal, preocupado com a justiça social, enquanto que o outro é um fanático religioso que não liga para os mais pobres e só quer garantir mais dinheiro para os ricos como ele. Nos convidam, na verdade, a votar entre Darth Vader e Luke Skywalker.

Custou-me um bocado de tempo e dedicação para sair da prisão mental da cultura moderna que separam as pessoas em aquelas que buscam o progresso e aquelas que lutam para manter a humanidade no atraso para manter seus privilégios, os chamados conservadores ou direitistas. Ou mesmo radicais.

Desde que comecei a enxergar essas coisas, nunca mais estive do lado vencedor, nem no Brasil nem nos Estados Unidos. Ganhei em alguns poucos casos menores, para me frustrar depois, com Sarkozy e  Cameron por exemplo, mas estes se revelaram uma grande decepção. Assim como sei que acabaria me decepcionando com Romney, cedo ou tarde. Mas era o que tínhamos!

Na verdade meu erro não está na escolha dos candidatos, política não é esporte, e nem se trata propriamente de um erro. O fato puro e simples é que minha filosofia pessoal não encontra eco na filosofia dominante de nossa época. Não aceito as crenças da modernidade, nem seus consensos, as premissas que a maioria de nós aceita sem perceber exatamente o que está aceitando, e que eu mesmo aceitava até pouco tempo.

E que crenças são essas que não aceito? Vejamos algumas:

– o principal papel dos governos, especialmente do presidente, é resolver os grandes problemas da sociedade;

– o governo é capaz de resolver os grande problemas da sociedade;

– a sociedade justa deve ser construída pelo seu sistema legal. É fundamental que os comportamentos moralmente desejáveis sejam transformados em leis e impostos pela força do estado;

– uma sociedade justa é conquistada pela igualdade entre as pessoas, que se traduz na igualdade de resultados. A estatística é a principal ferramenta para medir essa igualdade;

– a livre opinião é limitada pela tolerância, entendida como qualquer expressão que possa ofender as minorias ou um grupo que esteja abaixo de alguma média ou valor estabelecido pela sociedade;

– o bem coletivo é mais importante que os interesses individuais ou da família;

– a religiosidade das pessoas deve ser excluída de qualquer debate público. Religião é algo que deve ficar restrito ao fórum privado das pessoas e subordinado à política;

– a justiça de propósitos justifica os resultados; a intenção tem primazia sobre os resultados concretos das ações. O que vale é a intenção;

– não é possível ter um pensamento conservador sem ter algum interesse pessoal, normalmente financeiro;

Pois eu não acredito em nada disso. Cada vez mais me convenço que a sociedade se constrói de baixo para cima, em círculos, do indivíduo para a família, da família para a comunidade, da comunidade para o município e assim por diante. Cada círculo tem sua razão de existência no círculo imediatamente abaixo e não o contrário. A principal função da família é cuidar de seus membros, da comunidade cuidar de suas famílias.

O principal guia para nossas decisões não são as nobres intenções mas as leis eternas que temos gravadas em nossas consciências, expressões de uma ordem permanente e estável que existe em todos os seres humanos e que independe da ordem política imediata.

A vitória de Obama mostra de forma inequívoca o que a sociedade americana quer do seu governo; assim como a da Dilma mostra o que desejamos da nossa. Mas é preciso lembrar que não são todos, que há, muito mais lá do que aqui, os que discordam da metafísica atual. E essas minorias devem ser respeitadas e, acima de tudo, compreendidas.

Para os conservadores, lá porque aqui não há representação política, é preciso entender que o ambiente cultural é contrário a suas propostas. Se estudarem Aristóteles vão perceber que nunca vencerão pelo discurso retórico pois este parte de crenças já existentes no receptor da mensagem. É preciso mudar corações e mentes, o que só pode ser feito em um processo mais lento e de argumentação dialética. Por isso o discurso de esquerda sempre será mais convincente, pois já parte de crenças estabelecidas. Aos conservadores, na falta de termo melhor, o caminho é mais árduo mas inevitável; é preciso defender claramente e didaticamente porque nossa visão de mundo é mais correta e sem medo de desagradar.

Em suma, é preciso confiar na verdade e que ela sempre triunfará.

Mais 4 anos

E Obama foi reeleito, acabando com aquela conversa fiada que a economia é tudo; não é. Roosevelt já tinha provado isso quando conseguia se reeleger com o desemprego lá nas alturas, muito mais do que no governo do orelhudo. Tanto um quanto o outro conseguiu convencer o eleitor que justamente por estar em situação difícil era preciso manter no cargo quem defendia que o estado tivesse seu caráter assistencialista acentuado. Venceu o ideário coletivista, do estado tomando conta de tudo e de todos.

A América que se vire com o mostro que está gestando!

De meu lado, só posso lamentar. Estão apostando no fracasso. 

Redskins Rule

Essa vai para os superticiosos. 

Em 1937, o time do Redskins se instalou em Washington e uma estranha coincidência se estabeleceu. Nas 19 eleições para presidente, em 18 ocasiões sempre que o Redskins venceu seu último jogo em casa antes do pleito, o partido no poder ganhou o voto popular; sempre que perdeu o jogo, o partido na oposição ganhou. Houve apenas uma exceção, como toda regra que se preze. Em 2004 o time perdeu, mas o partido no poder ganhou na vitória de Bush contra Kerry.

Essa tradição ficou conhecida nos Estados Unidos como Redskins Rule

Ontem o time enfrentou o Carolina Panthers em casa. Perdeu por 21 x 13. Se a regra se confirmar, Romney ganhará no voto popular; o que não significa vencer as eleições, como aconteceu em 2000 com Al Gore. 

Amanhã veremos se a lei continua valendo.

Tudo se resume a Ohio!

Amanhã é dia de eleições nos Estados Unidos e não dá para saber quem vai vencer, coisa desconhecidas para nós brasileiros que sempre sabemos na véspera quem leva as eleições. A última vez que tivemos um pleito realmente indefinido foi vitória de Collor sobre Lula, em 1989. De lá para cá parece que os institutos de pesquisa foram os grandes eleitores. Divirjo, retornemos aos Estados Unidos.

Pode-se dizer que Romney é ligeiramente favorito para ganhar no voto popular e Obama de ganhar no colégio eleitoral, que é o que importa. Ohio tem tudo para ser o fiel da balança pois é extremamente improvável que o vencedor lá perca as eleições. O que se sabe com certeza é que será muito mais apertado do que foi em 2008.

Os conservadores estão confiantes, o que é um problema para os democratas pois tendem a comparecer em maior número nas urnas. Sim, lá, um país atrasado e pré-histórico, o eleitor só sai de casa no dia da eleição se quiser. Um dia talvez aprendam com a gente o que é democracia, por enquanto tem que convencer o eleitor a votar e ainda torcer para receber o voto! Do lado democrata tem muita gente pessimista, mas não quer dizer que vão perder. Já é conhecido um certo comportamento freudiano de alguns progressistas que sempre esperam o pior.

O que importa é que tudo está aberto para amanhã. Que vença o melhor!

Ou seja, Romney. 

Eleicos usa

Uma trapaça monumental

A coisa está fedendo para o lado de Obama, mais uma vez. Lembram do atentado à embaixada americana na Líbia que vitimou seu embaixador?

No dia seguinte a versão da casa branca foi espalhada na mídia sem o mínimo de crítica da imprensa bovina mundial. Tudo não passava de uma reação a um vídeo, muito mal feito por sinal, colocado no youtube. Hillary Clinton em pessoa endossou a versão.

Aos poucos foram aparecendo os indícios que na verdade se tratava de um ataque terrorista; pior, que o embaixador pediu desesperadamente o reforço da segurança da embaixada porque já tinham informações do que aconteceria. Descobriu-se que 24 horas depois do atentado, o governo americano já sabia do que se tratava e levou inacreditáveis 14 dias para reconhecer que se tratava de um ataque terrorista.

Mas você não viu nada disso na imprensa, não é? Nem mesmo que Hillary Clinton está assumindo toda a culpa para limpar a barra do chefe. Tudo mostra o ponto miserável que a grande imprensa tomou nos últimos tempos, especialmente no Brasil onde a cobertura internacional se resume a uma leitura do New York Times e reportagens da CNN. Foi-se um tempo em que o reporter se fazia perguntas sobre a matéria que escreveria, tentando encontrar os pontos falhos. O que existe é um indosso completo dos porta vozes oficiais.

A coisa está piorando ainda mais no caso da embaixada. Agora se sabe que o governo americano sabia da natureza do atentado 2 horas depois da morte do embaixador! Mesmo assim continuou na pantomina de culpar um vídeo do youtube para tentar escapar da responsabilidade pelas mortes. Imaginem a gritaria se tudo isso fosse obra do Bush! O mundo teria caído sobre sua cabeça e a palavra ordem seria crime de responsabilidade.

Aliás é curioso, uma embaixada americana é atacada a bombas em um 11 de setembro e se fica em dúvida se seria um ataque terrorista? Não se deixem enganar, como dizia Marx, o que entendia da natureza humana e não o dos furúnculos, tem jeito de terrorismo, parece terrorismo, tem cheiro de terrorismo mas no fundo… é terrorismo! Essa até o Lewandoski seria capaz de enxergar, aliás o nosso eminente juiz teria absolvido Hitler por falta de provas… Deixa para lá.

Como é Obama, os jornalões tratam de varrer a sujeira para debaixo do tapete e executar uma política de redução de danos. No Brasil, o melhor é manter o silêncio mesmo.

É bom que o eleitor americano faça a coisa certa agora em novembro. Para todos nós.

Romney vence a primeira batalha

Até a CNN foi obrigada a reconhecer, Romney foi melhor no primeiro debate entre os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos, o que, na prática, significa que foi bem melhor. Em termos práticos o que isso significa?

Bem, vai depender dos dias seguintes ao debate, particularmente da repercussão, o que está sendo pior para os Democratas do que o próprio debate em si. Chega a ser patético o desabafo do jornalista Chris Mattews com o desempenho fraco de Obama ontém logo depois do encerramento do debate, assim como a tentativa de justificativa da equipe do presidente.

Quem lê a cobertura brasileira pela imprensa, na prática uma leitura do NT Times e da CNN, imagina que Obama está nadando de braçadas para vencer as eleições. Não é bem assim. Está com uma vantagem nas pesquisas, mas longe de ser confortável, ainda mais depois de um período onde Romney apanhou da assessoria de imprensa do partido democrata, vulgo CNN e MSNBC, por ter dito a verdade em um encontro privado. O fato é que a eleição está totalmente aberta e não fosse Obama uma celebridade que transcende a política, estaria morto pelo próprio peso dos resultados desastrosos de suas políticas. Como é quem é, o jogo está aberto e está na frente.

Ao contrário do que muita gente pensa, e os analistas vivem propagandeando, debates não influenciam tanto assim no resultado das eleições, a não ser que um candidato tenha um verdadeiro desastre diante das câmeras, o que é muito difícil acontecer tamanho o profissionalismo envolvido na preparação. Esse negócio que debate pode decidir o voto dos indecisos não me convence, embora a repercussão do debate tenha alguma importância.

De resto, resta cada vez mais evidente que o modelo brasileiro é um desastre por si só. Aquela estória do mediador com relógio na mão, regras fixas e a absurda intromissão do TSE que obriga a televisão a dar espaço para gente que ninguém quer ouvir, resulta-nos um somatório de equívocos e uma imensa perda de tempo. Romney e Obama passavam a palavra um para o outro de forma civilizada, dando uma dinâmica para o debate que por aqui não existe nem em sonho.

Ontem parece que Romney venceu uma Batalha. Haverá outra, assim como as semans de campanha ainda pela frente. Os Democratas não vão ficar parados, ainda mais que não sabem perder. Vem chumbo grosso aí.

Com promessa de emoções.

O problema da gafe de Romney

A imprensa liberal americana, desculpe o pleonasmo, está fazendo a festa com a gafe do candidato republicano que disse que 47% dos americanos votariam em Obama de qualquer jeito pois seriam dependente do estado.

O problema da gafe de Romney é que seu raciocínio é lógico; o que não quer dizer exatamente que seja verdade.

Um candidato defende claramente os benefícios do estado; outro defende a diminuição do tamanho do estado. Em quem uma pessoa que depende do estado para viver votaria? A lógica aponta exatamente para o que Romney disse.

Eu, de minha parte, acredito que o homem sempre pode superar a si mesmo e ao seu meio. Que mesmo vivendo às custas do governo pode querer algo mais para si mesmo e sua família do que viver às custa de governo. É isso que Romney tem que tentar convencer: que é possível vencer por si próprio. É uma tarefa hercúlea, mas daquelas que valem a pena.

Um dia esses eleitores vão entender que a esquerda sempre terá um interesse especial em sua pobreza. É sua maior fonte de votos; em qualquer lugar do mundo. Por que um governo de esquerda iria querer tirar alguém da pobreza se estes votos são fundamentais para se manter no poder?

Pensem nisso.

Gingrich vence na Carolina do Sul, de lavada

 

Vocês acham que vou ficar acompanhando eleições municipais no Brasil onde a esquerda já obteve hegemonia completa? Fala sério! O dia em que tiver um partido conservador no Brasil, e gente disposto a defender essa bandeira (que teria penetração no eleitorado), posso voltar a participar de verdade. Com Haddad e Chalita disputando a prefeitura da maior cidade do Brasil, me incluam fora dessa!

Por enquanto, em termos de política, os Estados Unidos é o que chegam perto do meu sonho de consumo. Existe um partido conservador e gente que defende esse ideário sem precisar pedir desculpas. Há espaço para a divergência e o jogo é mais parelho, apesar da torcida cada vez mais explícita da grande mídia, expressão que odeio mas não acho outra, pela esquerda.

Há uma semana, tudo encaminhava para que Romney fosse confirmado como candidato republicano provavelmente no fim do mês, na Flórida. No máximo ainda teria que aturar o maluquete do  Ron Paul por mais um tempo, o que não seria de todo ruim pois o obrigaria a assumir algumas posições mas decisivas em relação ao tamanho do estado, por exemplo.

Depois da reviravolta em Iowa, com a vitória passando para Santorum, e o ressurgimento (mais uma vez!) de Newt Gingrich, o quadro ficou completamente indefinido. Pior, a vitória do granada ambulante foi acachapante, de lavada como se costumava dizer. Parece que Romney vai ficar mais perto de Santorum, que surpreende mais uma vez do que do gorducho mulherengo.

O que acho? Acho que apesar de tudo Romney é o que teria mais chances contra o orelhudo e sua máquina da grande mídia, oh expressão!, do que Gingrich, capaz de estourar rapidamente e cheio de pontos vulneráveis, e Santorum, que nunca foi governador (senadores só ganham eleições contra senadores, como foi com Obama contra McCain) e, ainda por cima, tem a desvantagem de ser católico.

Muita água vai rolar debaixo da ponte até haver uma definição. O fato é que agora Romney está sob pressão na Flórida. Se perder, onde é franco favorito, sua imagem de homem a ser batido cai por terra. É sempre bom lembrar que a Flórida é um dos estados que define a eleição, votando hora com os republicanos e hora com os democratas.