Margareth Thatcher (1925-2013)

É a segunda referência que perco nos últimos dias. Depois do crítico de cinema Roger Ebert, foi vez de dizer adeus a uma gigante, Margareth Thatcher. Parece que Deus resolveu chamar os bons para contrabalançar a ida do beiçola de Caracas. Se for assim, vai ter que ir muita gente boa para equilibrar o jogo, ainda mais que o morto vivo de Havana não vai durar muito por aqui.

Thatcher teve como uma de suas grandes virtudes políticas explicar claramente o que pensava e convencer os eleitores que era a melhor escolha, ou seja, era uma política no verdadeiro sentido aristotélico. Ela nunca enganou ninguém, nunca foi um fenômeno de marketing como parece ser a regra na política de hoje. Ele identificou o socialismo como o grande inimigo da sociedade, fez campanha pelo liberalismo e foi eleita, com ampla margem, para salvar seu país com esta plataforma. Ninguém se surpreendeu com suas decisões pois votaram para que ela as tomasse. Ela é um dos últimos exemplos de um político que disse exatamente o que iria fazer.

Ela evidencia o nosso atraso institucional _ ou o caminho que adotamos, pois atraso pode indicar que um dia chegaremos lá, o que hoje duvido _ de várias formas. Ela foi a primeira mulher a liderar um país democrático. O detalhe é que conseguiu por si mesma, vencendo o jogo político, e não como boneco de ventrículo de um ex-presidente em exercício. Enquanto os ingleses tiveram uma mulher forte, com personalidade, nós temos uma falsa imagem, que só engana os sofistas modernos com um avatar de gerentona mas claramente manobrada por um homem, dos mais machistas por sinal.

Outro exemplo que ela nos deixa é seu completo afastamento da política depois de seu governo, como costuma acontecer nos melhores países. Comparem com nossos ex-presidentes! O último ainda manda no país, um deles manda no Congresso e outro já ameaça até ser candidato, mesmo depois de expulso uma vez. Todos juntos em uma aliança vergonhosa por sinal.

Deixemos o Brasil. Margareth Thatcher literalmente endireitou seu país e o tirou do buraco econômico que se encontrava. A Inglaterra voltou a flertar com o socialismo fabiano e novamente está com problemas, como toda a Europa, o que mostra que as boas lições nem sempre são seguidas por muito tempo. Para piorar, seu primeiro ministro resolveu intervir na Líbia e substituir ex-terroristas por terroristas praticantes, mas deixa para lá.

Que descanse em paz.

There is no such thing as society: there are individual men and women, and there are families.

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Roger Ebert

Morreu hoje o crítico de cinema Roger Ebert. Basta dizer que tenho três livros dele em minha estante como fonte constante de consulta. É sem dúvida uma das minhas referências quanto o assunto é a sétima arte.

Por vía de suas críticas descobri muitas obras valiosíssimas. Ao contrário da imagem que temos dos norte-americanos, Ebert tinha a especial qualidade de observar com muita atenção o que acontecia fora de seu país. Além de uma paixão toda especial pelos clássicos, independente da bandeira.

Que descanse em paz.

Perdemos uma de nossas vozes sensatas: Joelmir Betting

Perdemos uma das nossas inteligências mais sensatas e prudentes do jornalismo, o economista Joelmir Betting. 

Era um daqueles que as pessoas confiavam pois não se deixava pautar por correntes ideológicas e parecia ter uma conexão especial com as pessoas comuns, o que não costuma ser normal em um economista. Era um apelo ao bom senso, talvez até demais.

Pois é, um dia tivemos Joelmir Betting. 

Hoje temos Miriam Leitão.

Sinal dos tempos.

 No Brasil, fomos dopados pela cultura da abundancia, irma siamesa da cultura da ineficiência, da acomodação e da tolerância; responsável pelo nosso atávico desperdício de terra, de água, de mata, de energia, de sossego e de gente.

Algumas frases de Betting: http://www.frasesfamosas.com.br/de/joelmir-beting.html

Partiram: Hebe Camargo e Ted Boy Marino

Ted Boy Marino

Conheci-o pessoalmente no Rio de Janeiro. Era figura usual na feirinha de artesanato que existia no Forte do Leme, onde tinha uma barraca de churrasquinho. Vagamente lembrava dele nos Trapalhões, mas sua maior referência para a geração anterior à minha era das lutas de Telecatch, uma espécie de luta livre ensenada. Era um herói de sua época; hoje temos os lutadores do tal MMA. Trocou-se a fantasia pela realidade. Perdemos ou ganhamos com essa troca? Talvez existesse mais realidade das lutas de mentira de Ted Boy Marino do que nas lutas de verdade de hoje.

Hebe Camargo

Era um marco da televisão brasileira. Não lembro de alguma vez ter visto seu programa, mas seu nome transcendeu ao próprio programa. Era conhecida por quem a assistia e quem não a assistia. É tudo que posso dizer sobre ela.

Eric Hobsbawn e Julien Benda

Faleceu o grande historiador inglês Eric Hobsbawn. E digo grande por sua imensa influência e talento para escrever história, o que não significa que estivesse certo na maioria de suas idéias; não estava. Talvez um dia seja objeto de um estudo sério, talvez como um dos exemplos do que Julien Benda descreveu na década de 20 como um intelectual traidor. Benda descrevia um fenômeno muito presente nos intelectuais de sua época, que traíam os grandes ideais que um intelectual deveria ter, amor á verdade, compreender o mundo, o senso moral e ético, pela prática de colocar seu talento intelectual à serviço de uma única causa: provar que está certo. Foi justamente o que Hobsbawn fez em toda sua carreira.

Convertido ao marxismo desde cedo, o historiador passou sua vida inteira tentando mostrar que detinha a verdade, que a história da humanidade é regida pela luta de classes. Lamentavelmente sua ideologia foi um limitador, as correntes do filósofo, que o impediram de sair da caverna e olhar a luz. Uma grande pena que um talento tão grande tenha sido colocado à serviço de uma causa e não utilizado para analisá-la.

O que não implica que sua obra deva ser desprezada, ao contrário. É impossível estar totalmente afastado da verdade, até porque jamais teria bagunçado a cabeça de muita gente se assim o fosse. Para conseguir a influência que teve é preciso que tenha dito muita coisa certa pois é necesária uma boa dose de verdade para que uma mentira prospere. O trabalho para um leitor sério é identificar as verdades que existem em sua obra e como pôde se equivocar tanto em suas conclusões.

O século XX inteiro foi a demonstração que o marxismo não só é um gigantesco engodo como suas consequências são a tirania e o fim da dingidade humana, gerando os maiores flagelos da humanidade, incluindo os desastres naturais!

Infelizmente, como tantos outros, Hobsbawn jamais foi capaz de fazer uma mea culpa e criticar seu próprio pensamento. Tinha todas as evidências necessárias para perceber que estava errado e exorcizar seus demônios, como fez Euclides da Cunha ao escrever Os Sertões, onde se retratava de todos os erros que escreveu durante a Campanha, como ressaltou Mario Vargas Llosa, outro que teve a humildade de reconhecer seus erros.

Hobsbawn, não. Preferiu ficar preso nas correntes da caverna. Foi um dos que mataram o filósofo.