Ilíada, de Homero
Ao narrar um período de cerca de 20 dias da Guerra de Tróia, Homero nos blindou com imagens tão poderosas que estabeleceria para sempre os parâmetros para a mais famosa campanha da antiguidade. Impressionante como um poema possa compactar tantas emoções e ao mesmo tempo trazer tanto realismo aos combates que foram travados entre a briga de Aquiles com Agamenon e a luta final de Aquiles com Heitor.
Ao contrário do que se possa imaginar, não é Aquiles ou Heitor os protagonistas da estória. A própria guerra é o principal, com toda sua carga emocional e acima de tudo, com sua irracionalidade. Em imagens vivas, Homero conta a epopéia e morte de inúmeros heróis, que partem para Hades mostrando que na guerra o que mais acontece é o imenso desperdício de almas.
Deuses e mortais se misturam em combates sem fim e no fundo, a razão da guerra parece simplesmente injustificada para tamanho morticínio. Mas não seria assim todas as guerras? No fundo haverá realmente justificativas para que bons homens se enfrentem de maneira tão selvagem em campos de batalha? Lembrei de uma frase de Clint Eastwood no sensacional Três Homens em Conflito, presenciando uma batalha da Guerra Civil, nunca vi tamanho desperdício de bons homens.
Pois essa é a sensação de ler Ilíada, o enorme desperdício de almas. Não é à toa que ao narrar a morte de Heitor, Homero se expresse:
Pós ter falado, cobriu-o com o manto de trevas a Morte,
e a alma, dos membros saindo, para o Hades baixou, lastimando
a mocidade e o vigor que perdia nessa hora funesta.
Ilíada é mais que uma narrativa histórica sobre a Guerra de Tróia. Trata-se de um gigantesco tratado sobre a natureza humana e tudo que aflora em uma Guerra. Lembrando que os períodos de paz sempre foram para a humanidade a excessão, o épico representa também a trajetória da humanidade na Terra, uma epopéia de Guerras e morticínio inútil.
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