Rerum Novarum

Rerum Novarum foi a encíclica que apresentou a doutrina social da Igreja Católica para a modernidade, divulgada em 1891. Mais do que uma visão econômica, tratava-se de uma visão abrangente dos novos desafios que os principais atores da sociedade moderna teriam que superar para promover uma sociedade mais justa e harmônica.

Neste artigo eu apresento a encíclica e comento suas principais passagens.

A preocupação da Igreja era com a substituição das cooperativas de operários pelas fábricas modernas. Desta forma, havia uma concentração da propriedade nas mãos de poucos e a distribuição de riquezas era uma consequência da perda da autonomia dos trabalhadores. Ao invés de tratar das riquezas, a encíclica faz uma defesa enfática da distribuição da propriedade. O salário não podia ser um instrumento de opressão e escravidão para o homem.

A encíclica rejeita o dogma da luta de classes marxista e defende o oposto, a conciliação de classes. Tratando de trabalho e capital, ambos precisam um do outro, ou seja, o capital precisa do trabalho e o trabalho precisa do capital. O patrão precisa dos trabalhadores e os trabalhadores precisam dos patrões. Desta forma, há direitos e deveres em ambas as partes.

Estes direitos e deveres só encontram seu verdadeiro alcance com base na ética e moral religiosa, no espírito de fraternidade que pode ser resumida na virtude da caridade.

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A hipocrisia dos ecochatos (ou burrice mesmo?)

Um dos problemas dos progressistas em geral, o que inclui os ecochatos, é que eles tem exatamente o raciocínio simplista que acusam seus maiores adversários, aqueles que chamam de direita. Vejamos um exemplo didático.

Depois da polêmica daquele vídeo ridículo protagonizado por atores globais (nossa imitação de Hollywood, inclusive com a mesma “profundidade” de pensamento), ficamos sabendo que a usina de Belo Monte funcionaria com o sistema de fio d’água e não o de reservatório, o que implica em uma área alagada menor. Parece que este é o novo modelo a ser utilizado, atendendo às pressões ambientalistas. Parece tudo razoável, não é? Uma vitória para os verdes que evitam um projeto mais agressivo.

Só que tem um custo. A usina fio d’água tem um menor fator de capacidade que a de reservatório, o que significa que produz menos energia por potência instalada.

Desde o apagão o Brasil investiu os tubos em termoelétricas para complementar nosso sistema. Significa que toda energia que deixa de ser produzida em uma hidrelétrica é compensada com… termoelétrica!

Ou seja, para evitar o dano ambiental pelo alagamento se faz a opção por queimar combustível! Não é uma maravilha?

Duas hipótese para os ecochatos. Ou são hipócritas, ou seja, sabem exatamente o que está acontecendo mais querem vender a vitória parcial sabendo que pouca gente consegue associar uma coisa com outra e perceber o custo final. É o clássico de gastar 100 reais para economizar 10. Uma das grandes leis da administração pública: não poupa dinheiro para economizar.

A segunda hipótese é a da burrice. Não sabem como está sendo produzida a energia que a usina deixou de produzir. Na cabeça deles simplesmente deixa de ser produzida e pronto. Só que o mundo real é bem diferente, a sociedade precisa de energia e ela será entregue. Nenhum governo quer conviver com um apagão não é Dilmá? Portanto, toma queima de combustível!

E todos ficam felizes!

E aí o que vocês acham? Hipocrisia ou burrice?

Mr Deeds Goes to Town (1936)

Deeds 2

Os Estados Unidos viviam a Grande Depressão quando Capra lançou mais este belíssimo filme, que aparentemente não parecia ter nada a ver com o assunto. Afinal, por mais de uma hora de projeção observamos Longfellow Deeds, um simplório que vivia em uma pequena cidade que subitamente se torna herdeiro de uma imensa fortuna e tem que lidar com todo tipo de interesseiro que deseja uma parte (ou todo) dinheiro que recebeu.

O que se vê é a inadequação de um homem que tem apenas o bom senso ao seu lado e uma Nova Iorque onde já predominava o sentido do urgência que os prazeres de uma vida essencialmente material pode levar o ser humano. As pessoas ao seu redor simplesmente perderam a capacidade de enxergar a bondade humana quando diante dela, como constata Bebe, uma repórter muito esperta, que para conseguir matérias para seu jornal consegue enganar Deeds fingindo ser apenas uma garota de interior procurando emprego.

Capra está muito certo quando mostra que uma pessoa praticando o bem consegue irradiar essa bondade para os que estão a sua volta, principalmente se estiverem com o coração aberto. É o exemplo de Cobb, um cínico assessor de imprensa _ sim, eles já existiam! _ que consegue mudar de uma total descrença no ser humano para uma fidelidade canina ao novo chefe. Com toque de mestre, Capra consegue que percebamos o momento exato onde isso acontece. Trata-se do instante em que cheio de ironia, Cobb mostra a Deeds a verdade sobre uma determinada pessoa e percebe a tristeza em seu semblante ao invés da raiva que está tão acostumado a ver na vida. 

O mesmo acontece com Bebe. Como Cobb ela também é tocada pela natureza de Deeds e percebe isso quando tenta rir cinicamente de uma de suas tiradas e simplesmente não consegue. Naquele momento percebe que não era mais a mesma de antes, tinha recuperado, se é que um dia teve, um pouco de fé na humanidade.

Capra nos mostra o ponto que chegamos nesta sociedade moderna onde a simples aplicação do bom senso parece-nos tão esquisito e inacreditável. Afinal o que postulava Deeds? Que um homem que vive no interior, com todo conforto e que faz tudo que gosta, não conseguia ver o significado de alguns milhões de dólares. Que temos que ter responsabilidade pelo uso que fazemos do dinheiro, seja qual for a proporção dele. Que temos que ser doces com as pessoas de bom coração, mas duros com os aproveitadores. Que temos uma responsabilidade com os bens que temos a nossa disposição.

Na última meia hora, seu filme que já era belo mas um retrato individual de um homem em seu labirinto, adquire um alcance social e enfim a grande depressão entra pela porta da frente, escancarada, do conto de fadas de Capra.

Um fazendeiro coloca a questão incômoda: que direito temos de desperdiçar de forma inconsequente, sem a menor responsabilidade,  o dinheiro que temos em nossas mãos quando ao nosso lado temos pessoas passando tanta necessidade como aconteceu nos Estados Unidos da década de 30? 

Na verdade, Deeds representa em suas andanças por Nova Iorque, a teoria keynesiana em toda sua força, o motor da economia de Roosevelt. Poucos perceberam na época, e agora, que seu filme era uma grande crítica ao simples despejo de dinheiro na sociedade como forma de resolver os problemas sociais. Não é à toa que o advogado Cedar afirma no julgamento de Deeds:

If this man is permitted to carry out his plan, repercussions will be felt that will rock the foundations of our entire governmental system!

Observem que ele não clama que mudaria os fundamentos da sociedade, mas do sistema governamental! E que idéias eram essas?

Conceder 10 acres, uma mula, um boi e equipamentos para cada fazendeiro falido. Todos que conseguissem trabalhar na terra por 3 anos receberiam a posse definitiva. Trata-se nada mais nada menos que o distributismo que Chesterton defendia tanto, uma forma de ação econômica proposta pelos escolástico na idade média! Três alqueires e uma vaca. Em outras palavras, a economia local, o pequeno. Nem capitalismo, muito menos comunismo, eram capazes de produzir uma sociedade mais equilibrada onde os valores maiores, como justiça, poderiam prosperar. Vejam que Deeds não quer simplesmente distribuir dinheiro para se livrar dele, nem viver das glórias da filantropia. Quer usar o dinheiro com responsabilidade para ajudar realmente as pessoas, o que implica em muito trabalho. Este é o sentido verdadeiro da caridade. Não se trata de esmola, um contrato estava sendo assinado ali entre Deeds e cada fazendeiro, cada um tinha suas obrigações a cumprir.

Quase 80 anos depois, com o mundo desenvolvido passando por uma de suas crises periódicas, constato que pouco mudou no panorama mundial. Os governos, especialmente o americano, continua adotando as mesmas práticas keynesianas de Roosevelt, jogando dinheiro do helicóptero para “estimular” a economia. 

Capra entendia que o máximo que o governo poderia fazer neste momento era não atrapalhar. Isso significava deixar o dinheiro nas mãos de quem tinha capacidade de realmente ajudar os que necessitavam, através de atividades produtivas, e não retirar dinheiro deles para os que não precisam.

Longfellow Deeds era um tipo realmente curioso. Armado com o bom senso, enfrentou uma sociedade que simplesmente não o compreendia pois não tinha capacidade de identificar os valores maiores que uma sociedade deve ter. Deeds nada mais fazia do que aplicar o amar ao próximo como mandamento máximo, com todas as suas consquências. Se a sociedade era incapaz de compreendê-lo, pior para ela!

 

O fim do século XX

Dizia Hegel que os anos de rupturas dos séculos não eram na passagem de um para o outro e sim cerca de 15 anos depois. Queria dizer que os grandes acontecimentos da história moderna que indicavam mudança seriam 1415 (Batalha de Agincourt), 1520 (encontro de Francisco I, Carlos V e Henrique VIII), o meio do século XVII com o assassinato de Henrique IV e a ascensão de Richelieu, 1815 (Batalha de Waterloo) e 1914 (inicio da I Guerra Mundial). É como se o relógio dos séculos estivesse 15 anos atrasado.

A segunda generalização feita por Hegel é que na história das idéias é importante perguntar de onde elas vieram, o que são e o que significam. Assim, o os períodos podem ser divididos desta forma:

  • século XVI: 1515-1615: idéias italianas (o nascimento da real-politics)
  • século XVII: 1615-1715: idéias francesas (iluminismo)
  • século XVIII: 1715-1815: idéias britânicas (revolução industrial)
  • século XIX: 1815-1915: idéias germânicas (vontade de poder)

Se Hegel estiver certo, estamos nos aproximando do final do século XX apenas agora, perto de 2015. E o que foi o século XX? Quem dominou? Os Estados Unidos com a democracia moderna ou a revolução tecnológica? Ou os soviéticos com o comunismo? 

Em uma primeira aproximação, penso que as idéias que vigoraram no mundo a partir de 1915, ou 1917, foram do comunismo. Mesmo que vários países não tenham se tornado ditaduras comunistas, foram de alguma forma afetados pelas idéias de Lenin e sua turma. Nasceu a social-democracia, o socialismo fabiano, as guerrilhas, o narco-tráfico organizado como movimento social, os sem-terra, o pensamento de governo mundial, o keynesianismo, a contra-cultura, o partido democrata foi cada vez mais para a esquerda e por aí vai. 

Sim, a União Soviética deixou de existir mas suas idéias continuam fortes a ponto de podermos dizer que a economia dos países ocidentais se voltaram mais para o fabianismo (estado dirigindo mas não tendo posse dos agentes econômicos) do que para o capitalismo clássico. No campo político, todos os países tem o governo mais forte hoje do que no início do século XX, mesmo o Estados unidos. Cuba, Coréia do Norte, Venezuela são símbolos decadentes de um tipo de comunismo que morreu com a União Soviética. Resta a China com um comunismo mais híbrido.

Estamos nos aproximando da época, em torno de 2015, que esse período deveria terminar. O que nos indica que Hegel pode estar certo?

  • A morte eminente de Hugo Chávez, Fidel Castro e o início de uma transição na Coréia do Norte. Não se sabem para onde vai estes países-prisão, mas com certeza sofrerão mudanças.
  • A crise econômica global causada pelo endividamento absurdo dos governo e suas sociedades. Paul Krugman pode gritar o quanto quiser mas seu Keneysianismo não tem como dar certo e nunca deu. Não há como combater uma crise de dívida fazendo mais dívida! A crise mundial é uma consequência do tamanho monstruoso dos estados e não da ganância dos mercados.
  • O surgimento, ainda incipiente mas que vai crescer, da consciência que a população mundial vai entrar em declínio e que as consequências para a sociedade são simplesmente desastrosas. A própria economia de consumo irá para o brejo.
  • A insuficiência de uma cultura que rejeita a transcendência e tenta praticar algo inspirado no epicurismo, no Carpe Diem, na ilusão da liberdade absoluta. A nova geração está dando sinais que não quer seguir este caminho, que deseja um retorno a fundamentos mais sólidos para uma vida em equilíbrio.

Claro que existem fatores como a China, que continua crescendo e levando a bandeira do comunismo, ainda que ligado ao mercado. Entretanto, o terceiro fator, o declínio populacional, que causará um forte envelhecimento, vai derrubar a China que não terá como suportar a pressão de uma população idosa gigantesca. O mesmo vai acontecer com as nações islâmicas que envelhecerão sem terem enriquecido. E sem tecnologia.

Olhando o noticiário parece que o predomínio dos governos sobre os cidadãos é irreversível e cada vez mais intenso. Talvez estejamos assistindo as últimas tentativas  de preservar uma época que está começando a acabar, a dos grandes governos.

Mais do que o comunismo, talvez seja esta a criação do século XX, dos governos tipo Big Brother, que tudo e a todos controla. Ou talvez este tipo de governo seja exatamente a consequência das idéias comunistas. Não sei, mas acredito que os governos estão chegando ou chegaram no ápice do poder que podem acumular. E se chegaram ao ápice, quer dizer que o equilíbrio é instável, que uma hora vão começar a cair.

Aguardemos para ver se Hegel tinha razão.

 

Relacionando notícias

Na semana passada, vimos que há risco de falta de gasolina no final do ano e por causa disso o preço deve subir. O governo e a nossa Petrobrás está trabalhando para minimizar os efeitos sobre a população. Afinal, o governo existe para isso, nos proteger dessas irregularidades do mercado. Como iríamos prever que o consumo subiria tanto em tão pouco tempo?

Uma demonstração de como o governo atua para nos proteger das diversas ameaças econômicas foi a ameaça de aumento do desemprego pela recessão econômica causada pelo endividamento dos brasileiros, que passaram a consumir menos para pagar suas contas. Atuando com firmeza, o ministro da imperatriz abaixou o IPI para incentivar a indústria. Como não dá para baixar imposto de todo mundo, afinal é preciso arrecadar, a redução se concentrou na indústria automobilística, que notadamente emprega muita gente. Ainda bem que temos planejadores no governo!

E qual o destaque da Folha hoje? Recorde para a venda de carros

Mas pera aí?

Vamos colocar as coisas na ordem:

1) Diminuição de impostos para os carros novos.

2) Aumento dos carros em circulação.

3) Falta de combustível na praça.

Só falta ter relação de causa e efeito entre essas coisas! Vocês acham que se estivessem relacionadas um ministro tão capacitado e um governo tão voltado para o povo iria tomar as medidas que estão tomando? 

Só falta dizer agora que os congestionamentos nas grandes cidades também é culpa do governo!

Francamente!

 

Detalhe:

Que o brasileiro comum não consiga relacionar causa e efeito nas medidas econômicas é até compreensível tamanho o desastre de nossa educação. Aliás, os eleitores da cidade de São Paulo não conseguiram relacionar Haddad – MEC – Educação – ENEM, quanto mais essas coisas essencialmente técnicas.

Mas que a grande imprensa se esconda nessas horas é uma tragédia muito maior! Que vergonha! Depois não entendem porque cada vez se confia menos em jornalista, se é que é possível!

Aproveitando, nunca é demais relembrar as 3 regras do Olavão sobre jornalistas:

1) jornalistas sabem muito menos do que acham que sabem;

2) constantemente erram;

3) nunca são responsabilizados por seus erros.

A questão moral do endividamento, uma reflexão.

Muito já se falou sobre o endividamento das famílias nesse mundo globalizado moderno. Eu mesmo já tratei aqui do problem por diversas vezes. O que pouco se comenta é sobre o aspecto moral da coisa, como se o assunto fosse exclusivo da esfera econômica.

Um dos ensinamentos do então cardeal Joseph Ratzinger que nunca esqueci foi que toda decisão econômica tem um fundamento moral. Isso não é novo, já era conhecido por Aristóteles e foi reforçado pelos escolásticos _ sempre eles!. Isso vale para nós, em nossas decisões, e vale para os que conduzem os rumos da economia mundial, empresários e sobretudo políticos.

Não é segredo para ninguém que os últimos governos brasileiros investiram pesado na facilitação do crédito para bombar a economia nacional. O consumo explodiu, milhares de empregos foram criados e criou-se uma ilusão de um círculo perfeito, onde o consumo manteria a economia sempre em expansão gerando mais empregos, mais renda e mais consumo.

Mas o mundo real não é assim. Consumir com crédito é deixar de consumir no futuro para consumir agora. Algumas pessoas argumentam que não dá para esperar chegar o futuro para poder consumir, as pessoas tem necessidades reais já.

O problema é saber o que é uma necessidade? Uma tv LCD? Um carro do ano? Endividar-se para fazer uma faculdade, criar um negócio, um curso de informática, de inglês, é uma coisa. Mas para comprar eletrônicos? Ipads? Celulares? A coisa piora muito quando se coloca automóveis e imóveis na equação. São bem caros e que se tornam ainda mais caros quando financiados.

Não se iludam com as chamadas taxas baixas dos imoveis financiados. Qualquer um que tenha estudo avaliação econômica de projetos sabe que financeiramente é mais barato morar de aluguel do que comprar um imóvel. Isso se tiver o dinheiro para comprar a vista, imagine sem o dinheiro! Mas não vou entrar nessa discussão agora, o que importa é que comprar imóvel financiado é uma brincadeira cara. Principalmente quando se pede o controle da situação.

A grande ilusão é que prestações baratas são pagáveis com tranquilidade. Uma pode ser. Mas quando se somam diversas, o resultado é uma boa dívida. Para piorar, governo, bancos e comerciantes fazem de tudo para que se compre as coisas a prazo. O resultado é o endividamente crescente, até chegar o ponto de não se ter como pagar e começar a postergar os pagamentos. É a receita para o desastre. Leiam Fausto e vão entender o que está sendo oferecidos para vocês.

Voltando ao tema moral, o que pouco se fala é o efeito que uma dívida dessas tem sobre as pessoas. Pelo Brasil afora, famílias estão sendo desfeitas, crises de depressão estão acontecendo, algumas vezes até suicídios. Sem contar com todos os efeitos colaterais que lidar com um problema desses gera no indivíduo (úlceras, gastrites, etc). O comportamento da pessoa muda, muitas vezes deixando os que estão à sua volta perplexos. Não é fácil admitir que não se tem mais capacidade de sair do buraco sozinho. O orgunho vai para o espaço.

Eu não tenho dúvidas que numa hora dessas quem melhor pode ajudar uma pessoa com um problema desses é a família no sentido amplo. Não são os bancos, governos, livros de auto-ajuda. É a boa e velha família. Feliz de quem tem a quem recorrer no momento de dificuldade.

Eu tive um momento assim há 9 anos atrás. Felizmente antes que a situação deteriorasse eu abri o jogo com minha esposa e busquei ajuda. Conversei com meu pai, pedi dinheiro emprestado para minha avó. Paguei as dívidas e fiz um acerto nas minhas contas pessoais. Cortei tv a cabo, jantares caros, presentes dispensáveis. Entrei em um período de austeridade. Logo consegui pagar minha vó e estabeleci um método para controlar minhas finanças que mantenho até hoje. As coisas melhoraram e graças a muito esforço e ajuda conseguimos sair antes que a coisa ficasse pior. Hoje a parte de prestações no meu cartão de crédito nunca passa de 300 reais.

Infelizmente nem todos possuem famílias que possam recorrer em um momento assim. A nossa cultura moderna está arrasando com a noção de família. Não há espaço para o sangue em um ambiente de relativismo cultural profundo como o que atravessamos hoje. A solução para o problema de dívida é simplesmente conseguir mais dívidas. Interessante que em um mundo em que não há certo nem errado seja considerado errado fracassar. Pedir ajuda passou a ser visto como sinal de fraqueza.

Políticos estão interessados apenas em manter a ilusão. É a economia estúpido! Bordão que usam para justificar as decisões. É preciso que as pessoas acreditem que estão melhorando de vida para continuar votando naqueles que aparecem como salvadores. Os mesmos que criam os mecanismos para o endividamento.

Governos, políticos e empresários sabem de tudo isso. Sabem que famílias estão sendo devassadas pelas dívidas. Gostaria de saber quantos divórciso se originaram em desequilíbrios financeiros profundos. Essa é uma estatística que não querem levantar. Poupar, antes uma virtude, passou a ser visto como desperdício. Precisamos de um ambiente que volte a incentivar que tenhamos sempre uma reserva para os momentos difíceis e que contrair dívidas não é uma solução válida para bens materiais. Quer aquela tv de lcd? Um ipad? Poupe até ter o dinheiro para comprá-los.

Você terá muito mais paz de espírito e esperança no futuro se souber gastar menos do que ganha. Ignore os apelos dos incautos, daqueles que só querem seu dinheiro. Paciência e prudência são virtudes, assim como a temperança.

Nem só de pão vive o homem, já dizia aquele antigo mestre. Precisamos parar de alimentar de votos os políticos com nossos estômagos. Claro que cada um tem responsabilidade pela dívida que contrai, mas aqueles que criam essas condições são ainda mais culpados. Contam com isso, precisam disso. São vampiros do juro alheio. Da dependência.

São, em suma, imorais.