Indignação

Com assombro vejo as notícias que Gabriel Chatila, que não tenho a menor simpatia, não será mais ministro da Ciência e Tecnologia porque é muito católico.

Como é que é?

Antes de começar a argumentar, já aviso logo, não sou católico. E se fosse não teria a menor diferença, pois penso com a razão e não com a fé, embora as duas se encaminhem para o mesmo lugar, como já dizia São Tomás de Aquino, o maior cientista que surgiu nos últimos 2000 anos!

Quando um desclassificado como Mercadante, que MENTIU ter doutorado, e depois deu um jeito de conseguir um diploma, foi nomeado ministro ninguém viu nada demais. Tudo beleza! Mas com Chalita, que eu não votaria nem para síndico de prédio, não dá? Tenham santa paciência! Não é à toa que os intelectuais brasileiros acabam ajoelhando para jornalistas e para a turma do PT! Somos um incrível país onde jornalistas influenciam intelectuais e não o contrário! Devem ficar lendo Dan Brown escondido e falando, tá vendo! A Igreja Católica combate à ciência! Lembra do Galileu?

Bando de VAGABUNDOS! Vão estudar suas cavalgaduras! A ciência foi um produto da IGREJA CATÓLICA! A começar pela própria criação da universidade e da pesquisa científica como conhecemos hoje. Está tudo bem descrito no livro de Thomas Woods Jr. Um livro que deveria ser obrigatório para um católico aprender a herança que possuem nas mãos! O Vaticano tem cientistas! E muitos deles ateus! Só tenho dois nomes para vocês: Descartes e Mendel! Quer mais? Copérnico! Mais um? Padre Landell de Moura! Não sabem quem é? Só uma amostra dos nossos ignorantes!

Quer dizer que Chalita é muito católico? Quer dizer que se fosse só um pouquinho estaria tudo bem? Bando de imbecis!

Com cientistas assim vamos longe!

A pobreza intelectual brasileira

Se querem um exemplo da pobreza intelectual brasileira, escutem o debate entre Dinesh D’Souza e Susan Jacoby no Kings College sobre o papel da religião na política. O tema do debate foi “o cristianismo é bom para a política americana?“.

O que se viu foi um debate de alto nível entre Dinesh, que defende o direito da religião fazer parte do debate político como todo o resto e Jacoby, que defende que a religião deve ser um assunto eminentemente privado pois o espaço público deve ser secular.

Durante duas horas eles discutem a intenção dos fundadores do estado americano, papel da religião na história, limites, crenças, símbolos religiosos, a religião nas escolas, etc. Discordem em praticamente tudo. A fórmula do debate também mostra porque nossos debates políticos, que se resumem em eleições, são ridículos e desestimulantes. Sim, existiam as regras básicas, mas eram flexíveis o bastante para permitir que volta e meia ambos se aguissem sobre vários assuntos.

Quem tiver paciência de anotar os argumentos de parte a parte terá uma excelente base para realizar um estudo dialético sobre o tema. Não vou tratar neste post sobre o que acho do assunto, o tema na verdade é o profundo sentimento de inveja em escutar um debate nesse nível. No Brasil é algo impensável pois temos raríssimos intelectuais que fazem jus ao nome. Como debater em um país onde Chico Buarque, Emir Sáder, Rodrigo Constantino e etc são considerados intelectuais? Em um país onde debater significa vencer o adversário em uma luta?

A coisa mais próxima de debate que temos por aqui ainda está no nível factual. Se o governo deve aumentar os recursos para educação, se o mensalão existiu, o que o PSDB deve fazer para ganhar eleição, quem deve ser o candidato tal, e por aí vai. Nunca vi uma discussão nesse nível sobre os limites do estado, o papel do governo, o que carateriza um regime democrático, o papel da religião na política brasileira, a legitimidade da questão do aborto em um debate político, e por aí vai. Ao contrário, a crença é que não se discute futebol, política e religião.

Parabéns aos dois debatedores, independente das convicções de cada um, pela civilidade e clareza de argumentação. Quem sabe ainda teremos condições de chegar nesse nível.